Os sinais de prontidão na introdução alimentar complementar

O bebé estará pronto para iniciar a diversificação alimentar quando demonstrar TODOS os sinais de prontidão.

Quando iniciar?

A OMS recomenda o aleitamento exclusivo até aos 6 meses de idade. Antes disso, a IAC é considerada precoce e envolve mais riscos que benefícios para um bebé saudável..

No entanto, estamos num país que ainda incentiva demasiado a introdução alimentar precoce - muitas vezes, sob o argumento da criança ir para a creche ou a mãe regressar ao trabalho. Ao iniciar a alimentação complementar antes do tempo, estamos a aumentar o risco do aparecimento de problemas de saúde no futuro, como: diabetes, hipertensão, obesidade, doença celíaca, alergias, intolerâncias, dermatites,... Infelizmente, estes riscos raramente são discutidos com os pais na consulta dos 4 meses. Depois, há também pouca orientação no sentido de preservar o aleitamento exclusivo no regresso ao trabalho/entrada na creche, o que não ajuda. 

Como saber se está pronto?

Se dermos ao bebé a oportunidade de nos mostrar quando está realmente pronto para iniciar a IAC, podemos garantir que o corpo dele também está pronto. Os sinais de prontidão que devem estar presentes são estes:

1) O bebé deve conseguir sentar-se e segurar o tronco com o mínimo de apoio. Se ainda não tiver esta capacidade, vai gastar uma quantidade incrível de energia a tentar manter-se direito e não tem a capacidade de se focar no que está a fazer com os alimentos. Uma posição correta é essencial para que o reflexo gag seja eficaz e evite o engasgamento.

2) Um bom sinal de que estão quase lá e, normalmente, o primeiro a surgir: começa a levar objetos à boca. É bom estimular isto através de mordedores, porque os ajuda a praticar a coordenação olhos-mão-boca e a desenvolver toda a musculatura orofacial. 

3) Movimentos de mastigação, essencial para desfazer os alimentos em pedaços antes de os engolir, de forma a ser seguro.

4) E claro, o interesse nos alimentos. Este sinal de prontidão é muitas vezes percepcionado antes de existir, porque é confundido com a curiosidade. Os bebés são naturalmente curiosos e gostam de observar. 

Porque é que faz sentido aguardar pelos 6 meses e sinais de prontidão?

Os bebés começam a rebolar, gatinhar, a sentar-se, a levantar-se e a andar quando estão prontos. O que é que normalmente fazemos? Colocamos o bebé num tapete/manta no chão e deixamos que se mexa à vontade. Vamos ajustando o ambiente e introduzindo brinquedos e estímulos de acordo com o desenvolvimento dele. Tentamos não interferir, para que ganhe a sua autonomia, e intervimos apenas quando precisa de ajuda. O bebé vai-se arrastando até conseguir gatinhar - porque lhe demos espaço e oportunidades para desenvolver essa capacidade. 

E porque é que fazemos diferente com a alimentação? Porque é que determinamos uma data para ele começar a comer se não o fazemos com o gatinhar, o falar, o sorrir, o andar…? Porque é que não lhe damos o tempo que - já dizem os estudos - podemos dar?

O que oferecer nas primeiras refeições?

Por incrível que pareça, não existe uma regra. As tabelas que, muitas vezes, são dadas aos pais na consulta dos 4 meses, foram elaboradas sem base científica. A ordem de introdução dos alimentos é puramente cultural. Reparem: na China começam por oferecer arroz, tofu e algas. Na Índia, lentilhas e vegetais temperados com cominhos, menta ou canela. No México, frutas como papaia e abacate, e alimentos com chili. Em África, papas de cereais e peixe. Em França, alho, espinafres, beterraba e até alguns queijos. É única e exclusivamente cultural. A sopa de legumes, e depois de legumes e proteína, nada mais é que a nossa preferência cultural.

Todos os grupos alimentares podem, e devem, ser oferecidos a partir dos 6 meses (legumes, vegetais, frutas, cereais, carnes, peixes, ovo, …). De resto, a ordem fica a critério dos pais. A única recomendação com base científica é que o prato do bebé deve conter:

- Um alimento rico em energia (de alto teor calórico);

- Um alimento rico em ferro, animal ou vegetal (e sempre aliado a um alimento rico em vitamina C para potenciar a absorção de ferro);

- Um ou mais alimentos hortofrutículas (aporte de vitaminas e minerais).

O que evitar

Temos dois grupos diferentes de alimentos a evitar: uns pelo risco nutricional, outros por risco de engasgamento (ou seja, que podem ser oferecidos se devidamente preparados). Por risco nutricional, não devem oferecer:

  • Açúcar/Doces Adoçantes artificiais

  • Leite animal como bebida (pode ser usado em receitas) 

  • Peixe, carne e ovos mal cozinhados 

  • Bebida de arroz 

  • Sal adicionado às refeições 

  • Sumos de fruta 

  • Refrigerantes 

  • Mel 

  • Chás

Por risco de engasgamento, evitamos: 

  • Frutas e legumes duros, crus e/ou inteiros (MAÇÃ! CENOURA!)

  • Frutos secos inteiros 

  • Pasta espessas (manteiga de amendoim, por exemplo) sem barrar 

  • Carne difícil de mastigar ou com ossos pequenos 

  • Peixe com pele e/ou espinhas 

  • Queijo duro 

  • Salsichas e outros com efeito ventosa 

  • Casca de fruta mais soltas 

  • Grainhas e sementes maiores 

  • Pipocas

Devemos adiar a introdução dos alergénicos?

As recomendações relativas à introdução de alimentos alergénicos mudou radicalmente na última década. Hoje sabemos que introduzir todos eles entre os 6 e os 9 meses de idade é fundamental na prevenção de futuras reações alérgicas aos mesmos ou, pelo menos, evitar que a reação seja mais grave. 

Gerir as quantidades a oferecer ao bebé:

Mais uma vez, não existe evidência científica por detrás das quantidades que devem ser oferecidas. Facilmente caímos na rasteira de pensar que o bebé come pouco se tivermos enchido o prato ou seguido à regra as gramas que nos recomendaram no centro de saúde. Não devia existir uma tabela que “serve para todos”.

As necessidades nutricionais dos bebés são diferentes, tais como as nossas. Nós não temos todos as mesmas necessidades energéticas, estatura, capacidade gástrica ou apetite. É preciso ter cuidado com o que colocamos no prato do bebé: aquela quantidade é uma expectativa do adulto do quanto o bebé deve comer. O melhor é começar sempre com menos e ir aumentando enquanto o bebé ainda demonstrar vontade de comer. O bebé já nasce com a capacidade de saber quando está saciado e deve parar. Vemos isso na amamentação em livre demanda. Na IAC não deve ser diferente, precisamos de confiar e ensinar o bebé a respeitar esse sinal de que está na hora de parar de comer. 

Next
Next

Diversificação alimentar: do método tradicional ao Baby-Led Weaning